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Cabecear com frequência no futebol pode prejudicar cérebro, diz estudo

De BBC Brasil:

Médicos americanos alertaram em um novo estudo que cabeçadas frequentes em partidas de futebol podem causar lesões cerebrais em jogadores.

Os médicos analisaram exames dos cérebros de 32 jogadores amadores e, nos exames, foram revelados padrões de danos parecidos com os encontrados em pacientes que sofreram concussões.

 Os pesquisadores afirmam acreditar que existe um número seguro de cabeçadas – cerca de mil cabeçadas por ano ou menos. Neste nível, o cérebro não sofreria lesões, mas os médicos afirmam que ainda são necessárias mais pesquisas a respeito.

Um jogador britânico da década de 1960, Jeff Astle, teria morrido em 2002, aos 59 anos, devido a problemas causados por muitas cabeçadas durante sua carreira.

Astle desenvolveu problemas cognitivos depois de anos jogando pela seleção da Inglaterra e pelo time inglês West Bromwich Albion.

A autópsia determinou que a morte do jogador foi resultado de uma doença degenerativa do cérebro causada por cabeçadas contra as pesadas bolas de futebol de couro usadas na época em que Astle jogava.

O médico que chefiou a pesquisa, Michael Lipton, do Centro Médico Montefiore, do hospital da Escola de Medicina Albert Einstein, em Nova York, afirma que as bolas usadas nos jogos atuais, apesar de serem bem mais leves do que as antigas, ainda podem causar danos.

Uma bola de futebol pode alcançar a velocidade de 54 quilômetros por  hora em jogos recreativos e até o dobro desta velocidade em jogos  profissionais.

Lesões leves

Lipton e sua equipe usaram um tipo de exame especial, conhecido como imagem por tensor de difusão, que visualiza nervos e tecidos cerebrais.

Os 32 voluntários que passaram pelo exame disseram aos médicos qual a frequência com que cabeceavam a bola durante treinos e jogos.

Com os exames, os médicos descobriram que os jogadores que eram “cabeceadores frequentes” tinham sinais óbvios de lesões traumáticas leves no cérebro.

Astle participou de 361 jogos pelo West Bromwich Albion

Cinco regiões do cérebro sofreram danos – áreas da frente do cérebro e na direção da parte de trás do crânio, onde ocorrem processos ligados à atenção, memória, funcionamento executivo e funções da visão.

Os pesquisadores avaliam que as lesões foram se acumulando com o tempo.

“Cabecear uma bola de futebol não tem um impacto que vai romper fibras nervosas no cérebro”, afirmou Lipton, ao apresentar sua pesquisa, na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte.

“Mas cabeçadas repetitivas podem desencadear uma série de respostas que podem levar à degeneração das células do cérebro.”

Número máximo

Os voluntários que tiveram seus cérebros examinados pela equipe de Lipton também fizeram testes para checar suas habilidades cognitivas como memória verbal e tempos de reação. Eles foram mal nestes testes.

Os danos ocorreram em jogadores que afirmaram cabecear a bola pelo menos mil vezes por ano.

Segundo os pesquisadores, apesar de parecer um número alto, mil cabeçadas por ano significam apenas algumas cabeçadas por dia para um jogador que pratica o esporte com frequência.

Os médicos americanos afirmaram que serão necessários mais estudos para determinar um número seguro de cabeçadas para os jogadores de futebol.

Mas, para Andrew Rutherford, da Escola de Psicologia da Universidade de Keele, na Grã-Bretanha, a pesquisa apresentada pelos médicos americanos não é convincente. O britânico pesquisa os danos causados por cabeçadas há anos.

Para Rutherford, os médicos americanos estão analisando os dados errados porque a maioria das lesões na cabeça ocorridas no futebol se deve ao impacto entre as cabeças dos jogadores, e não ao impacto com a bola.

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Memória

Dia 29/11 a Folha de São Paulo publicou uma matéria ótima sobre memória com vários depoimentos de especialistas, confira aqui, aproveite e faça o teste:

Trechos

Esqueceu uma coisa importante? Normal. Qualquer pessoa saudável, em qualquer idade, pode ter lapsos.

“Brancos” acontecem por motivos comuns: nervosismo, estresse, insônia, cansaço, excesso de informações.

“A memória é uma função cognitiva dependente dos processos de atenção. Qualquer coisa que interfira na concentração pode prejudicá-la”, afirma Mônica Sanches Yassuda, neuropsicóloga e pesquisadora da USP.

O esquecimento não é ruim. Para a neurologia, é tão importante quanto a lembrança. “Para recordar seletivamente o que interessa você tem que inibir, bloquear ou esquecer certas coisas. É inútil lembrar-se de tudo”, diz o neurologista Benito Damasceno, da Unicamp.

Não tem uma fórmula para melhorar a memória. Mas sempre é bom reforçar que gravar um fato depende de concentração e interesse.

“Estar motivado aumenta o tônus cerebral, criando uma situação ótima para que informações sejam registradas”, diz Benito Damasceno.

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RODA VIVA – Moacyr Scliar

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Redução dos níveis de vitamina B12 está relacionada a atrofia cerebral e declínio cognitivo no envelhecimento

De acordo com pesquisadores da Rush University Medical Center, as pessoas idosas com baixos níveis sanguíneos de marcadores de vitamina B12 podem ser mais propensas a ter redução do trofismo cerebral e problemas de habilidades cognitivas.

O estudo publicado na Neurology envolveu 121 sujeitos com mais de 65 anos participantes do Projeto Saúde e Envelhecimento Chicago. Foram realizados exames de sangue para medir os níveis de vitamina B12 e marcadores que podem indicar deficiência desta. Além disso, os indivíduos passaram por testes que avaliaram a memória e outras habilidades cognitivas.

Após 4 anos e meio de acompanhamento destes indivíduos, foram feitos exames de ressonância magnética dos cérebros dos participantes a fim de medir o volume total do encéfalo e procurar outros sinais de dano cerebral.

Os resultados indicaram que a presença de altos níveis de quatro dos cinco marcadores para deficiência de vitamina B12 foi associado a pontuação baixa nos testes cognitivos e menor volume total do cérebro. Para cada aumento de um micromol por litro de homocisteína – um dos marcadores da deficiência de B12 – a pontuação nos testes cognitivos diminuiu em 0,03 pontos.

“Nossas descobertas definitivamente merecem um exame mais aprofundado”, disse Christine C. Tangney, professora associada do departamento de nutrição clínica no Rush University Medical Center, e principal autora do estudo. “É muito cedo para dizer se o aumento dos níveis de vitamina B12 em pessoas de idade através da dieta ou suplementos podem prevenir esses problemas, mas é uma questão interessante para explorar. Descobertas de um estudo britânico com a suplementação com vitamina B também são favoráveis ​​e corroboram esses resultados.”

Os pesquisadores observaram que o nível de vitamina B12 no sangue em si não foi associado a problemas cognitivos ou perda de volume cerebral. Segundo eles, níveis baixos de vitamina B12 pode ser difícil de se detectar em pessoas mais velhas quando observa-se apenas para os níveis sanguíneos da vitamina.

Segundo os pesquisadores, estes resultados dão suporte para a afirmação de que a carência ou redução da vitamina B12 no organismo é um fator de risco potencial para o desenvolvimento de atrofia cerebral no envelhecimento e podem contribuir para o aparecimento de déficits cognitivos.

A vitamina B12 é presente em alimentos derivados de animais, incluindo peixes, carnes, especialmente o fígado, leite, ovos e aves.

Fonte: Science Daily e Eurekalert

Artigo:
Tangney C.C. et al. Vitamin B12, cognition, and brain MRI measures: A cross-sectional examination. Neurology, 2011; 77 (13): 1276 DOI: 10.1212/WNL.0b013e3182315a33

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Dietas restritivas de emagrecimento fazem neurônios hipotalâmicos se canibalizarem

Um estudo publicado na revista científica Cell Metabolism pode ajudar a explicar por que é tão difícil seguir uma dieta restritiva de emagrecimento.

Segundo a pesquisa, quando se passa fome, os neurônios responsáveis por regular o apetite presentes no hipotálamo passam a apresentar autofagia, ou seja, começam a comer partes deles mesmos.

Os cientistas acreditam que isso aconteceria porque após um período de jejum e o uso emergencial de reservas de gordura, o corpo receberia um sinal de que há uma falta de comida e faria com que as células se alimentassem delas mesmas.

Proteína que estimula o apetite

Os experimentos realizados com camundongos em laboratório revelaram que o ato de “autocanibalismo” destas células gera a liberação de ácidos graxos, que por sua vez resulta em níveis mais altos de uma substância química no cérebro (a proteína agouti, AgRP) que estimula o apetite.

Um dos responsáveis pelo estudo, o pesquisador Rajat Singh, do Albert Einstein College of Medicine, em Nova York, acredita que remédios que interfiram neste processo de autofagia dos neurônios hipotalâmicos poderiam ajudar a tratar a obesidade, fazendo com que as pessoas sintam “menos fome e queimem mais gordura”.

Segundo ele, quando a autofagia foi bloqueada nos neurônios dos camundongos, os níveis de AgRP não se elevaram em resposta à fome e os níveis de outro hormônio, o hormônio estimulante dos melanócitos, permaneceram altos. Esta alteração na química do corpo levou os camundongos a ficarem mais magros, já que eles comiam menos após um período de jejum e gastavam mais energia.

Metabolismo dos lipídeos

Por outro lado, Singh explicou que níveis cronicamente altos de ácidos graxos na corrente sanguínea, como acontece em pessoas com dietas ricas em gordura, podem alterar o metabolismo dos lipídeos e os neurônios hipotalâmicos, “criando um circulo vicioso de superalimentação e equilíbrio de energia alterado.”

O estudo também pode ajudar a explicar por que o apetite tende a diminuir com a idade, já que as células de um corpo mais idoso não conseguiriam realizar a autofagia tão bem como antes.

Fonte: BBC Brasil, Science Daily, Eurekalert e Discovery Magazine

Artigo:

Kaushik S. et al. Autophagy in Hypothalamic AgRP Neurons Regulates Food Intake and Energy Balance. Cell Metabolism, Volume 14, Issue 2, 173-183, 3 August 2011 DOI: 10.1016/j.cmet.2011.06.008

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Consumo de antibióticos cresce 4,8% em um ano

Aumento ocorreu após Anvisa passar a exigir a retenção da receita nas farmácias, numa tentativa de reduzir a automedicação e o risco de resistência bacteriana

O consumo de antibióticos no País cresceu 4,8% em um ano, saindo de 90,3 milhões para 94,7 milhões de unidades. O aumento ocorreu depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passar a exigir a retenção de receita para a venda desses remédios.

Os dados foram levantados pela IMS Health, consultoria especializada no mercado farmacêutico, a pedido do Estado, e leva em consideração a venda para o consumidor final, em farmácias.

A norma proibindo a venda de antibiótico sem receita foi publicada pela Anvisa em outubro do ano passado e passou a valer um mês depois. O objetivo da medida era reduzir a automedicação e o risco de resistência bacteriana.

Para especialistas, o aumento nas vendas é resultado do crescimento natural do mercado farmacêutico e da melhora da economia: o brasileiro tem mais acesso a planos de saúde, vai mais ao médico e, consequentemente, compra mais remédio.

Para o professor Silvio Barberato Filho, do programa de pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Sorocaba (Uniso), a medida tem um impacto positivo em reduzir a automedicação, mas ainda não resolve de forma eficaz o problema da resistência bacteriana.

“Temos estudos que demonstram que ainda há excesso de prescrição de antibióticos e prescrições equivocadas. Se a pessoa toma o remédio sem necessidade, mesmo comprando com receita, ela vai contribuir para o aumento da resistência”, diz.

A mesma opinião é compartilhada pelo infectologista Carlos Roberto Veiga Kiffer, pesquisador do Laboratório Especial de Microbiologia Clínica da Unifesp. “A má prescrição existe e é um dos fatores que nós médicos brigamos contra. O consumo precisa cair mais.”

Para Barberato, outras medidas, como a orientação específica ao profissional que prescreve antibióticos, deveriam ser tomadas para evitar a resistência. “O fato de o paciente comprar com receita não quer dizer que a receita não está associada ao mau uso. O controle das vendas é apenas um dos elementos para controlar a resistência bacteriana. Essa norma não consegue coibir a prescrição equivocada”, diz.

Classes específicas. Tese de mestrado defendida ontem na Uniso, orientada pelo professor Barberato, mostrou que nos seis meses depois do início da norma houve queda na venda antibióticos indicados para o tratamento de doenças respiratórias.

A pesquisa levou em consideração uma base de dados de cerca de 2.800 farmácias. Segundo Barberato, houve redução na venda da tetraciclina (39%), azitromicina (33%), amoxicilina (32%) e lincomicina (26%). “Essa queda aconteceu provavelmente porque esses eram os medicamentos mais vendidos sem receita”, afirma.

Segundo Nelson Mussolini, vice-presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), o mercado farmacêutico cresceu 20% no último ano. A tese da indústria para explicar o aumento nas vendas é a de que nunca houve uma automedicação tão exagerada quanto era imaginado.

“Ninguém toma antibiótico se não precisa. E sempre há um pico de venda nos meses de inverno, por causa dos problemas respiratórios”, diz Mussolini.

Sistema. Apesar de ter publicado a norma há quase um ano, a Anvisa não tem um levantamento oficial sobre o consumo. Pela nova regra, as farmácias deveriam fazer a escrituração eletrônica das receitas retidas no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) a partir de abril deste ano, mas o prazo foi suspenso por tempo indeterminado.

Assim, a Anvisa depende dos dados manuais feitos por cada estabelecimento. Segundo a assessoria, o prazo foi suspenso porque o sistema atual não comportaria uma demanda tão grande de informações. A agência também atribui o aumento do consumo ao crescimento do mercado.

Fonte: Estadão

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Informações sobre câncer na Wikipedia são precisas, porém difíceis de ler

Tão bom quanto um site especializado

É comum ouvir dizer que as informações da Wikipedia não são confiáveis porque são escritas e editadas por não-especialistas, sem supervisão profissional.

Mas pesquisadores da Universidade Thomas Jefferson (EUA) chegaram a uma conclusão bem diferente, de acordo com um estudo publicado no Journal of Practice Oncology.

Eles descobriram que as informações sobre câncer encontradas na Wikipedia são realmente similares em precisão e profundidade às informações apresentadas por um site especializado, revisado por cientistas, e voltado a fornecer informações sobre câncer aos pacientes.

Mais densa e rápida

A única ressalva é que, segundo os pesquisadores, as informações no site revisado pelos cientistas estão escritas em uma linguagem mais clara – os cientistas analisaram as informações publicadas em inglês, sendo que geralmente há diferenças no conteúdo e na forma de apresentação das informações da Wikipedia entre os diversos idiomas.

Os novos dados revelaram também que a Wikipedia tem atualização mais rápida, sobretudo com resultados de novas pesquisas.

E, ao contrário do que afirmam os não-simpatizantes da enciclopédia digital, o hiperlinks da Wikipedia levam o leitor a informações mais densas, enquanto o site especializado oferece explicações mais curtas e mais superficiais.

Aspectos controversos

Os pesquisadores compararam as informações sobre câncer encontradas na Wikipedia com as informações encontradas na seção Physician Data Query (PDQ), voltada para o doente, do site do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos.

Nos dois sites, as imprecisões encontradas foram extremamente raras: menos de dois por cento das informações em qualquer um deles está em discordância com aquelas apresentadas nos livros-texto.

Um inconveniente encontrado nos dois sites, segundo os cientistas, é a falta de discussão sobre aspectos controversos do tratamento do câncer.

Por exemplo, citam os pesquisadores, nenhum dos dois sites analisados falam sobre as opções para o tratamento do câncer de próstata, incluindo a chamada “espera vigilante” em comparação com os tratamentos de radiação.

Fonte: Diário da Saúde e Science Daily

Artigo:
Malolan S. et al. Patient-Oriented Cancer Information on the Internet: A Comparison of Wikipedia and a Professionally Maintained Database. Journal of Oncology Practice, 2011.

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Consumir uma maçã ou pêra por dia pode reduzir o risco de AVC

Segundo um estudo holandês publicado no Stroke, periódico da American Heart Association, pessoas que comem mais frutas e legumes com polpa branca, como a maçã e a pera, correm menos riscos de terem um acidente vascular cerebral (AVC).

Diferentemente de estudos anteriores, essa pesquisa dividiu frutas e legumes em grupos de acordo com as cores de suas partes comestíveis para relacionar o consumo desses alimentos com o baixo risco de derrame. A classificação foi feita da seguinte maneira: frutas e legumes verdes, como alface, repolho e verduras escuras; laranjas e amarelos, que, na maioria, eram frutas cítricas; vermelhos e roxos, que eram principalmente vegetais vermelhos; e brancos, das quais 55% eram maçã e pera, mas também incluíam banana, couve-flor, chicória e pepino.
A pesquisa reuniu um grupo de 20.069 adultos com idade média de 41 anos – nenhum deles apresentava problemas cardiovasculares. Foi aplicado um questionário sobre a frequência de consumo de 178 alimentos no ano anterior. Num período de dez anos, houve 233 casos de derrame cerebral no grupo.

Legumes e frutas verdes, laranjas e amarelos e vermelhos e roxos não foram relacionados com o risco de AVC. Por outro lado, os pesquisadores constataram que a chance de derrame foi 52% menor em pessoas que consumiam mais alimentos “brancos” do que naquelas que apresentavam baixo consumo.

O estudo associou que cada 25 gramas a mais no consumo diário de frutas e vegetais brancos correspondem a 9% a menos de risco de derrame cerebral. Apenas uma maçã de tamanho médio, por exemplo, tem 120 gramas. “Porém, outros grupos de cores de frutas e legumes podem proteger contra outras doenças crônicas. Portanto, ainda é importante consumir muito todos esses alimentos”, explica Linda M. Oude Griep, coordenadora do estudo e pós-doutoranda em nutrição humana pela Wageningen Uninversity, na Holanda.

De acordo com Griep, antes que os resultados sejam adotados no dia a dia, as descobertas têm de ser confirmadas em outros estudos adicionais, já que um questionário baseado em frequência alimentar pode não ser muito confiável. “Além disso, a redução de risco de AVC observada também pode ser atribuída a um estilo de vida mais saudável de pessoas que têm uma dieta rica em frutas e legumes”, explica Heike Wersching, do Instituto de Epidemiologia e Medicina Social da Universidade de Münster, na Alemanha.

Fonte: Science Daily

Artigo:
Linda M. et al. Colors of Fruit and Vegetables and 10-Year Incidence of Stroke. Stroke, 2011. Acesso aqui.

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Esportes: quando o ‘barato’ torna-se um vício

Atividade física é uma das maiores promotoras de saúde e bem-estar, mas é preciso cuidado para evitar que ela se torne um vício que resulta em consequências desastrosas para o corpo e a mente.

Vício. Palavra associada a práticas socialmente aceitas como danosas, como consumo de drogas, cigarro, álcool etc. Difícil colocá-la na mesma frase com esporte. Não é ele que livra das drogas, do cigarro, do abuso do álcool? Mas há de se fazer um adendo: exagero é sempre negativo, não importa exagero de quê, mesmo de atividade física.

E essa não é uma realidade de poucos. Em 2010, uma pesquisa do Cepe (Centro de Estudos em Psicobiologia do Exercício) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) apontou que 28% dos 400 atletas avaliados em todo o País são viciados em exercícios físicos. “O vício ou, como é melhor descrito, a ‘dependência de exercício’ é determinada por meio de um questionário que verifica comprometimento, tolerância, abstinência, continuidade e envolvimento”, explica o pesquisador Vladimir Modolo.

O estudo ouviu 200 atletas profissionais de elite e 200 praticantes amadores de atividade física de diversas modalidades. Em comum, uma frequência mínima de cinco dias de treinamento por semana. Os voluntários responderam a um questionário que abordava tolerância da prática e abstinência na falta de exercícios, o quão importante é a atividade em seu quadro social e o quanto o atleta seria capaz de abrir mão da prática esportiva em função de outras atividades. “Este questionário é aplicado em conjunto com outros instrumentos de avaliação de perfil de humor (ansiedade, depressão, agressividade, qualidade de vida, qualidade de sono, etc.). Daí identificamos se existe o componente ‘dependência’ e o quanto isto já afeta este atleta.”

Não é o primeiro estudo na área – a primeira descrição do tipo na literatura médica data da década de 70 – mas nunca atletas profissionais haviam sido ouvidos para pesquisas semelhantes.

Além da constatação dessa dependência em número considerável, os pesquisadores descobriram que quem pratica esportes individuais, como a corrida, está mais propenso a desenvolver esse comportamento. “Ainda tentamos avaliar o porquê. A hipótese é que, quando o indivíduo pratica exercício individualmente, há uma cobrança muito maior. No coletivo, a divisão de responsabilidade ameniza o risco”, afirma Modolo.

Na comparação entre homens e mulheres, o perfil é semelhante, mas, enquanto elas se preocupam mais com a imagem corporal, eles exageram por afirmação social e para saciar a competitividade. Outro dado relevante mostra que o número de ‘dependentes’ é equilibrado entre profissionais e amadores, diferentemente do que se pensava, uma vez que os primeiros dependem do esporte para sustento.

O vício pelo esporte é tanto físico quanto psicológico, devido à pressão da sociedade para ter um corpo perfeito. “Durante o exercício, produzimos uma maior quantidade de endorfinas, substâncias que atuam no cérebro e estão ligadas a sensações de prazer, euforia, bem-estar e analgesia e são elas que fazem o atleta buscar cada vez mais sessões de exercício físico, o que já caracteriza um quadro de tolerância, ao ponto de atletas viciados trocarem compromissos familiares e profissionais por conta da prática compulsiva de exercícios”, explica Modolo. É neste ponto que o ‘barato do corredor’ (do inglês runner’s high) se torna prejudicial.

É importante frisar que essas reações químicas em resposta ao exercício são efetivamente benéficas. “Um estudo publicado no periódico Neuroscience confirmou que os exercícios físicos aumentam a síntese da proteína BDNF – fator neurotrófico derivado no cérebro – no hipocampo, região do cérebro que controla a aprendizagem e a memória. Repare que isso é um dos estudos, que na verdade considero o mais importante a ser levado em conta. O BDNF auxilia e fortalece a sinapse no cérebro”, informa o psicólogo esportivo Paulo Ribeiro. “Na verdade, superar limites tem relação mais próxima a dificuldades pessoais do que cerebrais. Pessoas que atravessam ou atravessaram fases muito difíceis tendem a se confrontar com situações que exigem delas um maior grau de ativação e autoestima, a fim de modificar um estado de coisas interno que não mais lhe dá prazer ou que lhe impeça de desenvolver seu potencial na totalidade.”

O problema é que essa sensação aumenta quanto mais treinado o indivíduo, uma vez que os iniciantes tendem a apresentar cansaço e dores musculares mais rapidamente e esse estado de euforia está ligado à intensidade e duração do exercício. Ou seja, os mais bem condicionados ficam com essa sensação prazerosa por mais tempo e de forma mais intensa. O corpo, então, acostuma-se a essas substâncias e uma interrupção nos treinos faz com que o organismo reaja como num período de abstinência de drogas. “Quem nem cogita perder um dia de treinamento, de corrida, de ginástica, etc., pode estar tão viciado quanto quem consome heroína, por exemplo. Uma tal sensação de euforia toma conta do praticante e funciona, como dizem alguns autores, como o ‘barato do corredor’. Situação similar à sensação ilusória do bem-estar causado pelo uso da cocaína por lhe deixar mais ‘ligado’, mais desinibido”, compara Ribeiro.

A solução, então, é não parar de treinar? Aí o prejuízo vai para articulações, tendões, vida social. A solução é não chegar a esse ponto. Entretanto, não é o que o treinador Ronaldo Martinelli, da Bio Running, vê em seu cotidiano. O profissional afirma que são muitos os casos de dependência entre os corredores. “Geralmente acontece com pessoas mais experientes e que já passaram por diversos desafios, como completar uma maratona ou um ironman. Muitos criam esta dependência por já ter incorporado um estilo de vida totalmente voltado ao esporte. Novas metas e novos desafios é que movem estas pessoas. O fato de não treinar um dia pode levá-la a crer que não estará tão bem preparada a enfrentar o próximo desafio”, classifica. A preocupação exagerada com o corpo também pode levar a extremos. “Existem aqueles que se preocupam com a aparência e a falta de gasto calórico um dia pode levá-las a crer que ficarão obesas ou que ganharão alguns quilos tão difíceis de perder.”

A saída, para o treinador, é conversar com o aluno. “É a única maneira que temos de intervir neste tipo de situação. É claro que também é nossa função identificar os sintomas, mas, muitas vezes, só a conversa não adianta. Neste caso, o ideal é indicar um psicólogo do esporte. Mas infelizmente são poucos os que procuram este tipo de profissional”, lamenta.

O risco de exagerar na dose é maior entre aqueles que não têm acompanhamento profissional, já que as cargas de treinamento são decididas sem uma base apropriada. “Os efeitos disto para as articulações são extremamente prejudiciais e em alguns casos podem levar o indivíduo ao fim da carreira esportiva. É algo muito sério, mas que muitos se dão conta só quando estão com algum problema”, alerta Martinelli.

Outra consequência é a chamada vigorexia, a dependência ao exercício. Trata-se de um transtorno devido ao qual as pessoas que praticam esportes de forma contínua são tão fanáticos, que não se importam com eventuais prejuízos à saúde ou recomendações médicas.

Perfil

O corredor dependente passa a ser acometido por gripes constantes, alergias, rinites e sinusites, uma vez que, ao consumir energia demasiada por meio da atividade física, há rebaixamento do sistema imunológico, tornando-o mais suscetível a ficar doente do que normalmente estaria. As lesões também parecem nunca curar totalmente. Tais problemas podem estar relacionados tanto ao aparelho locomotor, como no caso de tendinites, bursites, fraturas por estresse, quanto ao metabolismo, no caso de insônia, agitação e taquicardia, por exemplo. Mais fraco, o corredor sente uma fadiga permanente, mesmo no período de repouso, e se vê incapaz de realizar os movimentos com a mesma eficácia de antes.

É difícil identificar o excesso pela carga de treinamento, já que o ritmo de exercícios varia de acordo com o indivíduo e seus objetivos. Um dos primeiros sinais é a mudança na vida social. “Ultrapassar os limites do seu corpo, deixar de estar com os amigos em virtude da prática exacerbada de atividades físicas são sinais de que algo não vai bem. Sua vida pode estar vazia, sem mais interesse na afetividade/amor, nos relacionamentos, na introspecção, no isolamento social, etc. Daí uma compensação excessiva nessa prática que tinha tudo para ser saudável e passa a ser nociva”, explica Ribeiro. “A pessoa é considerada viciada quando determinada prática interfere no desenvolvimento de outras atividades, sejam elas profissionais, sociais, familiares ou psicológicas.”

Levando em consideração sua experiência do cotidiano, Martinelli acredita que são mais raros os casos em que a família é deixada para trás. “Em relação à família é mais difícil acontecer, mas é possível, sim. A pessoa que já chegou neste nível realmente precisa de atenção. Talvez nem seja o fato de vigorexia, mas porque encontrou na corrida uma forma de descarregar os problemas, estresses, entre outros. Tenho vários atletas que são viciados em esporte, mas acredito que todos eles têm um relacionamento bom com suas famílias, filhos, esposas, maridos, até porque isto pode influenciar na performance da pessoa. A família, em alguns aspectos, é super importante em qualquer atividade. O apoio é fundamental para quem busca um desafio ou completar uma meta mais difícil, como uma maratona, por exemplo. A pessoa que deixa de lado a família pode indicar que talvez tenha algum problema de relacionamento com a mesma ou que realmente mergulhou num vício perigoso.”

Em compensação, segundo o treinador, os compromissos sociais são, sim, os que mais sofrem quando há dependência. “Um viciado em corrida realmente dá menos importância a essas coisas. Muitos não hesitam em deixar de lado um jantar para treinar no dia seguinte. O mesmo acontece se tem que participar de alguma prova. Em relação a isto, não sei se é errado ou certo, mas posso dizer que é possível conviver com este vício desde que os amigos e a família jamais sejam esquecidos. Apesar da corrida ser benéfica, é preciso deixar claro os malefícios do exagero, quando o praticante só tem um tema a falar e em qualquer situação. Neste caso, até os assuntos profissionais ficam em segundo plano. Para quem quer ter vida longa no esporte, o equilíbrio é fundamental”, alerta Martinelli.

Quanto aos sinais físicos, o mais comum é a maior suscetibilidade a lesões. “Além disso, o rendimento, ao invés de melhorar, piora”, identifica Martinelli. Nesse caso, é indicado procurar um médico para medir níveis hormonais e marcadores das substâncias aumentadas durante o exercício. Se o vício for diagnosticado, o tratamento deve ser multidisciplinar, com acompanhamento psicológico, uso de medicamentos e ajuste no ritmo de exercícios.

Essa investigação pode, por exemplo, levar à conclusão de que o problema não é a corrida em si, mas sim outros fatores com os quais o indivíduo terá que lidar. “Quando essas questões passam a ser tratadas de maneira extrema pela pessoa é sinal de que algo precisa ser revisto. Não estaria esse praticante com algo a menos em sua vida afetiva?”, questiona Ribeiro. “Essa é uma das inúmeras questões que envolvem os viciados em exercício.”

Para o pesquisador Modolo, é possível descrever um perfil de quem geralmente exagera na dose. “Em geral, pessoas com uma preocupação excessiva com o corpo ou com sua imagem corporal, que são extremamente controladas nas suas atividades diárias dedicadas aos exercícios e que apresentam quadros de abstinência quando impossibilitadas de praticar exercício.” Para Ribeiro, no entanto, o quadro é mais amplo e, para identificá-lo, deve-se levar em conta questões físicas. “De tudo é possível, de tudo mesmo. Na verdade, pessoas com esse perfil têm certamente algum transtorno psicológico que precisa ser investigado e, acima de tudo, tratado, pois todo excesso é passível de cuidado e atenção, pois ao contrário do que pensam, uma bioquímica cerebral digamos, desencontrada, pode ser tratada como qualquer transtorno psicológico.”

Mal encoberto

O grande ‘problema’ para se compreender que há um exagero e que este é prejudicial está no fato de que a atividade física é propagandeada como essencialmente saudável. E isso não deixa de ser verdade nunca, apesar dos cuidados necessários para evitar exageros. “A atividade física é talvez a principal ferramenta na promoção de saúde, prevenindo ou melhorando quadros de hipertensão, diabetes, doenças do coração, obesidade, etc. E também uma ótima ferramenta quando falamos em saúde mental, proporcionando bem-estar, melhoras nos quadros de ansiedade e depressão e até como prevenção de doenças como Parkinson. Porém, a prática compulsiva pode levar a um vício que, de certa forma, cria um paradoxo, causando malefícios fisiológicos (diminuição da imunidade, alterações hormonais, etc.) e problemas psicológicos (aumento da ansiedade, depressão, transtornos compulsivos, anorexia ou vigorexia, etc.)”, contextualiza Modolo.

Para Ribeiro, não é o caso dos tênis serem vendidos com alertas, como o cigarro e a bebida, do tipo ‘se correr, não exagere’. A solução passa por instrução e compromentimento. “Inicialmente é complicada essa história de convencimento (de que o esporte pode ser prejudicial). Na verdade, cada vez mais as informações dos meios de comunicação são importantes e dão conta de como se deve praticar exercícios físicos de maneira comprometida com a ciência. É importante informar a necessidade de orientação quanto à prática benéfica dos exercícios físicos, pois somente dessa forma poderemos convencê-lo a ter uma visão mais global de uma corrida, por exemplo, qual o tênis mais apropriado, qual indumentária mais eficaz e assim por diante”, defende.

Assim como há trabalho na área da conscientização, a procura dos pesquisadores não terminou. “Estamos investigando quais doses destas substâncias de prazer estão desencadeando o transtorno, se existe outras vias de vício envolvidas e qual o tratamento mais adequado. Para mulheres, é fundamental que investiguemos também transtornos alimentares ou de imagem corporal, pois este grupo tende a praticar atividades físicas com uma preocupação estética maior que o masculino”, revela Modolo.

Faça uma revisão de sua relação com a corrida:

> O vício pela corrida não é uma doença em si, mas pode causar danos à saúde;
> Exageros podem ser reflexo da luta com o espelho ou da falta de desafios em outras áreas da vida pessoal;
> O chamado ‘barato da corrida’, resultado da ação de neurotransmissores que controlam as emoções, pode estimular que o atleta continua praticando a atividade mesmo sem estar fisicamente apto;
> Não se deve treinar todo dia, sob o risco de emitir ao corpo um sinal de que a corrida é uma atividade fundamental, como comer e dormir;
> Os exageros podem ser combatidos com planejamento e acompanhamento de profissional de Educação Física e médicos do esporte;
> Para ajudar a entender o porquê desse comportamento, a ajuda de um psicólogo é bem-vinda.

Sintomas psicológicos:

> Aumento da ansiedade e irritabilidade;
> Crises de depressão e variações de humor;
> Diminuição do tempo de sono;
> Sensação de agitação e taquicardia;
> Dificuldade de manter relações fora do ambiente da corrida.

Sintomas fisiológicos:

> Alterações hormonais;
> Aumento da tolerância (necessidade de mais sessões de treino para obter o mesmo resultado);
> Crises de abstinência;
> Aumento da fadiga e estagnação dos resultados;
> Lesões (tendinites, bursites, fraturas por estresse, etc.) que nunca curam completamente e são recorrentes;
> Queda da resistência do sistema imunológico (gripes constantes, alergias, rinites e sinusites).

Fonte: http://www.multiesportes.com.br
Matéria publicada originalmente na edição número 84 da Revista Corredores S/A

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"Um simples cérebro, sendo bem mais longo do que o céu, pode acomodar confortavelmente o intelecto de um homem de bem e o resto do mundo, lado a lado." Emily Dickinson
"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos." Nelson Rodrigues
"Cada um pense o quiser e diga o que pensa" Espinosa
"O animal satisfeito dorme" Guimarães Rosa