RODA VIVA – Moacyr Scliar

@giselecgs

 

Rubem Alves e Moacyr Scliar conversam sobre o corpo e a alma. Uma abordagem médico-literária

Com uma linguagem inédita em seu gênero, a obra traz uma conversa entre os dois autores sobre doenças da alma, como melancolia, inveja, culpa, além de abordar o poder mítico do médico, o poder da cura pela palavra e a questão da felicidade que parece ser, como diz Guimarães Rosa, “um raro momento de distração”. Uma leitura fluente e inspiradora, indispensável para todos os que, de vez em quando, gostam de parar para refletir sobre as grandes e pequenas questões da vida.

Fontes: Saberes editora e daqui

Leiam,

@giselecgs

 

O Centauro no Jardim

Vale a pena ler esse livro, do saudoso médico e escritor Moacyr Scliar, saiba um pouco mais em: CENTAURO NO JARDIM

Observação:esse “resumo” da obra deixa de lado alguns aspectos do livro que são os mais importantes, como o conflito entre o que somos e o que mostramos a sociedade e mais algumas coisinhas …

Leiam!

A imagem é daqui

@giselecgs

Correr é bom!

“Correr é bom.Meus amigos correm todos os dias de manhã,dão pelo menos seis voltas em torno ao parque,dizem que é para evitar enfarte.Dizem também que a corrida clareia a mente,que o cérebro,agitado dentro do crânio,libera todas as preocupações,as obsessões.Pode-se ver até uma nuvenzinha de vapor se elevando da cabeça de grandes corredores”.
 Mas eu sei que não é por isso que correm.Correm por correr,porque é bom;não fossem as limitações de tempo e de espaço,e os compromissos assumidos,e as famílias,e tudo o mais,correriam em linha reta,iriam para bem longe,para o paraíso dos risonhos corredores,o lugar cujos limites a gente,por mais que corra,jamais ultrapassar;o lugar onde todos só fazem correr-uns de abrigo azul-marinho,outros de calção branco,uns de tênis,e outros em bando;correndo e conversando;correndo e comendo sanduíches,correndo e cagando,correndo sem parar,como eu corria naquela noite-mas felizes,(sem o medo que eu tinha.)”

Em O CENTAURO NO JARDIM,Moacyr Scliar

Imagem daqui

@giselecgs

Lágrimas e Testosterona

Lágrimas e testosterona

Moacyr Scliar

Atenção, mulheres, está demonstrado pela ciência: chorar e golpe baixo. As lágrimas femininas liberam substâncias, descobriram os cientistas, que abaixam na hora o nível de testosterona do homem que estiverem por perto, deixando o sujeito menos agressivos. Os cientistas queriam ter certeza de que isso acontece em função de alguma molécula liberada — e não, digamos, pela cara de sofrimento feminina, com sua reputação de derrubar até o mais insensível dos durões. Por isso, evitaram que os homens pudessem ver as mulheres chorando. Os cientistas molharam pequenos pedaços de papel em lágrimas de mulher e deixaram que fossem cheirados pelos homens. O contato com as lágrimas fez a concentração da testosterona deles cair quase 15%, em certo sentido deixando-os menos machões.

(Publicado no caderno Ciência, 7 de Janeiro de 2011)

Ele vivia furioso com a mulher. Por, achava ele, boas razões. Ela era relaxada com a casa, deixava faltar comida na geladeira, não cuidava bem das crianças, gastava de mais. Cada vez porém, que queria repreendê-la por urna dessas coisas, ela começava a chorar. E aí, pronto: ele simplesmente perdia o ânimo, derretia. Acabava desistindo da briga, o que o deixava furioso: afinal, se ele não chamasse a mulher à razão, quem o faria? Mais que isso, não entendia o seu próprio comportamento. Considerava-se um cara durão, detestava gente chorona.

Por que o pranto da mulher o comovia tanto? E comovia-o à distância, inclusive. Muitas vezes ela se trancava no quarto para chorar sozinha, longe dele. E mesmo assim ele se comovia de uma maneira absurda.

Foi então que leu sobre a relação entre lágrimas de mulher e a testosterona, o hormônio masculino. Foi urna verdadeira revelação. Fina! mente tinha uma explicação lógica, científica, sobre o que estava acontecendo. As lágrimas diminuíram a testosterona em seu organismo, privando-o da natural agressividade do sexo masculino, transformando o num cordeirinho.

Uma idéia lhe ocorreu: e se tomasse injeções de testosterona? Era o que o seu irmão mais velho fazia, mas por carência do hormônio.

Com ele conseguiu duas ampolas do hormônio. Seu plano era muito simples: fazer a injeção, esperar alguns dias para que o nível da substância aumentasse em seu organismo e então chamar a esposa à razão.

Decidido, foi à farmácia e pediu ao encarregado que lhe aplicasse a testosterona, mentindo que depois traria a receita. Enquanto isso era feito, ele. de repente caiu no choro,um choro tão convulso que o homem se assustou: alguma coisa estava acontecendo?

É que eu tenho medo de injeção, ele disse, entre soluços. Pediu desculpas e saiu precipitadamente. Estava voltando para casa. Para a esposa e suas lágrimas.

Moacyr Scliar, que morreu no último dia 27/02/2011, à 1h. aos 73 anos, escrevia na coluna “Cotidiano” do jornal “Folha de São Paulo”, às segundas-feiras um texto de
ficção baseado em notícias publicadas no jornal. Esta é a última coluna do
médico e escritor publicada naquele espaço.

Este texto, inédito, foi enviado pelo escritor ao jornal no dia 11/01/2011 , antes de sofrer um AVC (acidente vascular cerebral), no dia 17/02/2011.

Daqui

@giselecgs

"Um simples cérebro, sendo bem mais longo do que o céu, pode acomodar confortavelmente o intelecto de um homem de bem e o resto do mundo, lado a lado." Emily Dickinson
"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos." Nelson Rodrigues
"Cada um pense o quiser e diga o que pensa" Espinosa
"O animal satisfeito dorme" Guimarães Rosa